O mercado global de criptomoedas ultrapassou a marca de US$ 3 trilhões com a chegada do histórico período de alta do Bitcoin, alavancado desta vez com a vitória de Donald Trump à Casa Branca. Neste período, contudo, o mercado do ouro teve uma reação um tanto fraca ao novo presidente. O que pode ter motivado essa diferença
Os mercados atuais do ouro e das criptomoedas mostram que eles tiveram performances diferentes com o final vitorioso de Trump. O metal precioso registra nesta quinta-feira (14) suas mínimas de quase dois meses, enquanto os investidores apostam suas fichas em ações e criptomoedas.
O Bitcoin chegou a subir acima dos 25% depois da vitória de Trump, batendo durante esta semana todos os recordes de preço, tanto eu dólar quanto em real, chegando a valer US$ 93 mil por moeda na quarta-feira (13). No mesmo período, o ouro caiu 7%, sendo negociado nesta semana a US$ 2.580 a onça.
E o metal precioso pode continuar caindo, segundo especialistas.
“Há uma pausa no mercado de alta de ouro e prata, e isso pode continuar pelas próximas semanas”, disse à CNBC o chefe global de pesquisa de commodities do Citi, Maximilian Layton. Já o Bitcoin, continua firme na esperança de que Trump cumpra uma série de promessas ao setor.
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Um dos motivos por trás do fraco desempenho do ouro pode estar relacionado ao sentimento de risco, já que o dólar continua a se fortalecer com Trump prestes a reassumir o comando da maior economia do mundo. O índice do dólar atingiu sua maior alta em um ano, tornando o ouro, precificado em moeda norte-americana, mais caro para investidores que possuem outras divisas.
Desregulamentação de Trump?
Layton disse que os preços do ouro provavelmente serão negociados em baixa, já que as ações dos EUA se recuperam com as perspectivas de impostos e regulamentações mais baixas — e o retorno de Trump à Casa Branca levou as ações dos EUA a recordes, embora o rali tenha dado uma trégua.
“Parece que Trump vai ter uma varredura vermelha e uma maior desregulamentação, um ambiente de impostos mais baixos que levou dinheiro para ações, dinheiro para Bitcoin e dinheiro para fora do ouro”, concluiu Layton.
“Até que essa fase de lua de mel comercial de Trump siga seu curso, o ouro e a prata estão em meio a uma reprecificação para uma trajetória menos otimista”, comentou também Vivek Dhar, do Commonwealth Bank of Australia. Para ele, “o aumento do dólar americano reflete como os mercados precificaram a agenda de políticas inflacionárias de Trump, que inclui principalmente cortes de impostos e tarifas”.
Observadores otimistas do ouro também têm dado suas opiniões sobre o ativo, considerando os fundamentos do metal precioso. De acordo com a empresa de serviços financeiros Canaccord Genuity, espera-se que a demanda do banco central por ouro permaneça forte, haja vista que os bancos centrais compraram uma quantidade recorde de ouro no primeiro semestre de 2024.
“Se o segundo mandato do presidente eleito Trump for parecido com o primeiro, com uma abordagem de confronto tanto com amigos quanto com inimigos, acreditamos que a forte demanda internacional por ouro como ativo de reserva provavelmente continuará em relação à demanda por títulos do Tesouro”, escreveram os analistas.
Dinheiro como “tecnologia social”
Um artigo na Bloomberg também tentou explicar por que a vitória de Trump impulsionou o Bitcoin, mas não fez o mesmo com o ouro. O site optou clarificar o assunto fazendo uma analogia com uma tese do economista David McWilliams, descrita no livro Money: A Story of Humanity.
A tese de McWilliams não é nova, mas articula particularmente bem que o dinheiro é uma “tecnologia social”.
Quando um bom sistema monetário funciona, ele tem duas qualidades principais — permite que você faça transações em escala e permite que você planeje de forma mais eficaz para um futuro incerto. Essas qualidades permitem e encorajam uma gama maior de atividades econômicas, levando a mais crescimento e melhores padrões de vida.
O artigo leva em conta a teoria monetária moderna (MMT). Como descreve, é a ideia de que os balanços nacionais não devem ser uma restrição aos gastos do governo, porque mais dinheiro sempre pode ser impresso para financiar quaisquer projetos que o estado considere representar investimento produtivo.
McWilliams não enquadra a questão dessa forma, diz o texto, mas sua justaposição dos dois deixa bem claro que você pode ver o Bitcoin e a MMT como duas visões ideologicamente opostas do futuro do dinheiro.
Conforme teoriza o site, o Bitcoin representa a privatização total do dinheiro, pois o BTC é uma moeda imune à “degradação” e ninguém pode imprimir novas moedas, além de dar o controle somente ao seu detentor.
A MMT, por outro lado, representa a nacionalização total do dinheiro. Na estrutura da MMT, o dinheiro é uma criação do setor público, controlado por governos por meio de bancos centrais, que são apenas subsidiárias do governo.
A Bloomberg concluiu que existe a visão de mundo libertária, com um Estado reduzido, representada pelas criptomoedas, e a visão de “Grande Governo como Empreendedor”, exemplificada pela MMT. No final, o artigo questiona: Qual dessas visões se alinha mais com Trump? Com Elon Musk envolvido, a resposta provavelmente é a primeira – pelo menos, por enquanto.
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