Tokenizar ativos do mundo real (Real World Assets, ou RWA) tem como meta fornecer liquidez imediata, diminuir custos do processo e democratizar as oportunidades de investimento — mas nem tudo é passível de ser tokenizado. O passo a passo foi dado por Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios do MB, durante palestra no evento Ethereum Rio na terça-feira (14).
“Objetivo é tokenizar tudo que tenha valor que esteja fora da blockchain. Não é a intenção nesse processo repetir um token de um projeto que já existe on-chain. É criar representações desses ativos de mercado tradicional, como precatórios e recebíveis. E fazer a ponte entre finanças tradicionais e finanças descentralizadas”, afirmou Tota.
O executivo apontou que o primeiro passo para tokenizar é olhar para a regulamentação na origem e destino. Ou seja, é importante que exista um arcabouço legal para tokenizar o ativo onde ele está e também onde os compradores irão comprar.
“Não adianta você dizer que está tudo certo na jurisdição que você está para fazer a emissão do token. Mas e na distribuição? Você vai precisar também de um arcabouço regulatório que te permita vender. No Brasil, por exemplo, não pode entrar valor mobiliário. E não adianta dizer que está regulado na Suíça, em Dubai, na Austrália, a distribuição aqui não será autorizada”, explica.
Sobre os motivos de tokenizar, o especialista lembra que o primeiro é a liquidez para o ofertante. E dá um exemplo: “No MB, o primeiro precatório que tokenizamos foi de R$ 1,5 milhão. Compramos por R$ 1,2 milhão. Para o dono, fazia mais sentido receber esse dinheiro agora do que esses R$ 300 mil a mais no futuro”.
Vale lembrar que precatório é uma dívida já confirmada pelo Poder Judiciário que o ente público deve a um cidadão, mas que será paga só após uma fila de outros pagamentos.
“Do lado dos investidores, esse produto é para aqueles que têm a paciência de esperar a data de pagamento lá na frente do precatório e receber essa diferença”, conta. A liquidez para o comprador também é imediata, já que existe um mercado secundário no qual ele pode vender e sacar antes do precatório ser pago.
Sobre a redução de custos, Tota lembra que toda a infraestrutura de sistema Web3 permite que um simples contrato inteligente gere toda a custódia e transmissão dos tokens. Em uma estrutura de finança tradicional, é muito mais custoso cada passo se comparado com a blockchain. “É um sistema muito poderoso”, define.
Sobre a democratização dos investimentos o plano mais visível é do comprador, que passa a ter opções que antes não tinha acesso. Nesse processo, o vendedor também se beneficia: “Você acha bolsos novos para vender os seus ativos”.
Por fim, Tota ressaltou ser curioso que o caso de tokenização mais bem sucedido é a tokenização do dólar. “Stablecoins nada mais são do que tokenizações do dólar. São hoje US$ 150 bilhões só em tokenização de dólar. É até engraçado que um sistema que nasceu para ser alternativa ao tradicional, acabou sendo altamente dependente do dólar”.
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