Há dois anos, o mercado de criptomoedas vivia um dos dias mais caóticos de sua história com a desastrosa quebra do ecossistema Terra (LUNA), que perdeu mais de 97% de seu valor em apenas 24 horas, em 11 de maio de 2022.
Na época, em apenas um mês, a criptomoeda caiu de uma então máxima histórica de US$ 119 para menos de US$ 1 em um processo de crise de confiança que abalou investidores e deixou um rastro de destruição no mercado.
A quebra da Luna desencadeou várias outras crises, respingando no colapso da FTX, mas naquele 11 de maio teve um impacto imediato no preço de outros ativos, como o Bitcoin (BTC), que caiu de US$ 31 mil para US$ 27 mil.
No dia seguinte, 12, a blockchain Terra anunciou a interrupção da produção de novos blocos para prevenção de ataques de governança e para reduzir os danos da queda de preço que levou o token LUNA a zero. Ou seja, a Terra havia sido desligada.
Pouco antes da interrupção da produção de blocos pela blockchain, a Terraform Labs, empresa responsável pelo ecossistema Terra liderada por Do Kwon — hoje preso —, chegou a apresentar um plano com três medidas emergenciais para tentar salvar a LUNA do naufrágio, mas já era tarde demais.
Como a LUNA foi de US$ 119 a US$ 0
O colapso de todo ecossistema Terra teve início com a perda de paridade da stablecoin Terra USD (UST), que resultou em uma violenta desvalorização da criptomoeda LUNA.
Diferente de stablecoins mais conhecidas como Tether (USDT) e USD Coin (USDC), que criam paridade com o dólar mediante lastro depositado em banco, a UST mantinha até então sua estabilidade por meio da queima de Luna.
Neste modelo de stablecoin algorítmica, a cada unidade de UST emitida, US$ 1 em Luna era retirado de circulação em um sistema guiado por market makers (criadores de mercado), que atuavam na compra e venda dos ativos, lucrando em troca da tarefa de manter a paridade do UST com o dólar.
Nesse sistema, o protocolo que oferecia as melhores recompensas aos usuários era o Anchor, com rendimentos entre 17% e 20% ao ano em UST. A própria Terraform Labs fazia aportes no protocolo para aumentar seus ganhos.
Porém, no início de maio de 2022, a Tron (TRX) anunciou um novo protocolo que oferecia mais de 30% de rendimento anual sobre stablecoins, levando a uma forte migração de usuários, já que o retorno seria muito maior. Isso deu início à desestabilização do sistema da Terra.
Para piorar, na época o Bitcoin caiu forte e foi a gota d’água para que a Luna entrasse na chamada “espiral da morte”. Com a UST brigando para se manter em US$ 1 e a Luna caindo junto com o mercado, os market makers não conseguiram atuar rápido o suficiente para segurar os preços.
Com o mercado em desespero, os investidores começaram a resgatar valores cada vez maiores em UST com o receio de que a stablecoin perdesse sua paridade, o que de fato aconteceu. Isso fez com que o sistema emitisse mais tokens Luna, derrubando ainda mais o preço da criptomoeda e intensificando o medo no mercado que inevitavelmente desencadeou no colapso de todo o ecossistema Terra.
Do Kwon: o homem por trás da quebra da LUNA
Por trás de todo o projeto estava o sul-coreano Do Kwon, que em 2018 se mudou para os EUA e criou a Terraform Labs. O que por alguns anos foi um case de sucesso no mercado de criptomoedas, virou um pesadelo para ele.
Kwon está preso em Montenegro desde março de 2023 por falsificar seu passaporte e hoje está no meio de uma briga entre EUA e Coreia do Sul, que solicitam sua extradição por acusações criminais.
Nos EUA, ele enfrenta acusações de fraude por procuradores federais em Nova York, além de uma ação civil movida pela Comissão de Valores Mobiliários (SEC), que o acusou de “orquestrar uma fraude de valores mobiliários de criptoativos de vários bilhões de dólares”.
No início de abril ele foi considerado culpado pelas fraudes por um júri de Nova York. Na ocasião, a SEC argumentou que Kwon e a Terraform secretamente arranjaram para que uma terceira parte comprasse grandes quantidades de TerraUSD para manter sua paridade com o dólar em maio de 2021, e Kwon atribuiu falsamente a recuperação à confiabilidade dos algoritmos do TerraUSD.
Enquanto isso, os procuradores sul-coreanos acusaram Kwon de crimes financeiros, incluindo fraude, violações das leis de mercado de capitais, manipulação de volumes de transações usando “trader bots” e suborno.
De acordo com Dan Sunghan, do departamento de investigação de crimes financeiros no Ministério Público do Distrito Sul de Seul, Do Kwon corre o risco de pegar mais de quatro décadas de prisão se voltar a pisar no seu país natal.
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