Com a atualização mais importante da história do Ethereum (ETH) ficando cada vez mais perto, um grupo de mineradores começou a se movimentar para encontrar formas de resistir à Fusão, que trará o fim definitivo da mineração de ether.
Embora a migração do Ethereum – marcada para meados de setembro – para o mecanismo de consenso de Prova de Participação (PoS) seja positiva para comunidade cripto pela chance de tornar as transações mais rápidas e baratas, abandonar o consenso de Prova de Trabalho (PoW) acabará com a renda de milhares de mineradores ao redor do mundo.
Só no mês de julho, por exemplo, esses profissionais ganharam US$ 620,6 milhões com a mineração de ETH — uma receita que chegou a bater um recorde de US$ 2,4 bilhões em maio do ano passado.
Frente a uma perda financeira dessa magnitude, um movimento contrário à fusão começou a ganhar força na semana passada, encabeçado por um grande minerador de criptomoedas chinês chamado Chandler Guo.
Guo tornou público em 1º de agosto sua intenção de realizar um hard fork da blockchain do Ethereum para manter viva uma cadeia baseada nos mecanismos atuais. Na prática, o Ethereum ganharia duas versões: a oficial e atualizada para o consenso PoS — Ethereum (ETH); e uma versão não oficial, ainda baseada no PoW, ou seja, com mineração — ETHPoW (ETHW).
O analista de research do Mercado Bitcoin, Lucca Benedetti, disse ao Portal do Bitcoin ser altamente provável que o cenário descrito acima se torne realidade, pela forma como os mineradores estão se movimentando atualmente.
“A comunidade de mineradores tem sido bem vocal em relação a isso e faz sentido: muitos desses mineradores fizeram investimentos consideráveis em suas operações e, com a transição da rede para Proof of Stake, eles perderão muita lucratividade, inviabilizando algumas operações”, explica.
Nova rede não deverá ser concorrente
Embora seja grande a chance dessa versão replicada do Ethereum ser criada por mineradores em protesto à Fusão, Benedetti avalia que uma possível concorrência com a rede principal ainda é algo muito distante.
“A comunidade do Ethereum se mostra muito unida com a ideia do merge [Fusão]. A grande maioria dos desenvolvedores e aplicações é bem vocal em seu apoio às atualizações descritas no roadmap oficial do Ethereum. Por esse motivo, não acredito que ocorra nem mesmo uma cisão da comunidade em volta deste tópico, como observamos por exemplo quando o Bitcoin Cash fez seu hardfork”, relembra o analista.
A visão de Benedetti de que a possível rede dos mineradores não afetará o Ethereum se deve ao fato de que a maioria dos projetos construídos hoje no Ethereum – e que são parte central do seu ecossistema – tendem a não dar apoio a essa nova versão PoW.
Sem desenvolvedores criando aplicações para a rede e, consequentemente, investidores para usá-las, uma versão alternativa do Ethereum pode até existir, mas não terá utilidade prática.
Ethereum Classic
O Ethereum Classic (ETC) talvez seja o caso mais notável para ilustrar esse cenário. Ele é um hard fork do Ethereum gerado em 2014, mas hoje seu valor de mercado não passa de US$ 5 bilhões, contra os US$ 222 bilhões da rede principal do Ethereum.
“Acho que vai virar uma rede meio morta”, projeta Rony Szuster, analista do MB. “no sentido de ela não terá muito propósito. Sem aplicações de DeFi e o efeito rede que isso gera, essa rede não terá muito propósito e pode não beneficiar os usuários de forma geral.”
Szuster cita como um caso concreto para basear sua opinião a Chainlink, que já deixou claro que não dará suporte a rede alternativa. “Sem suporte da Chainlink, não haverá acesso a dados de oráculos que são uma infraestrutura básica para as aplicações de DeFi funcionarem direito hoje na rede do Ethereum”.
Outra entidade importante no setor cripto que se posicionou da mesma forma foi Circle, emissora da segunda maior stablecoin do mundo USDC, baseada na rede Ethereum.
Segundo a empresa, só a versão “oficial” pode existir como opção “válida” de rede. “Entendemos a responsabilidade que temos para o ecossistema Ethereum e pretendemos fazer a coisa certa. Nosso único plano é apoiar totalmente a cadeia atualizada PoS do Ethereum”, diz seu comunicado.
Benedetti explica como uma posição como essa impacta o usuário final. “O USDC na carteira de alguém nesta rede alternativa não teria valor, pois não seria possível trocá-los por dólares físicos. Até mesmo carteiras como a Metamask, sem um RPC público oferecendo infraestrutura, não conseguiriam ser utilizadas para interagir com o fork a não ser que o usuário rode seu próprio software cliente”.
Tether (USDT), a maior emissora de stablecoins do mundo, também vai nesta linha de apoiar apenas a fusão, dizendo ser “importante que a transição ao PoS não seja transformada em uma arma para gerar confusão e danos ao ecossistema”.
Corretoras em cima do muro
Apesar disso, as corretoras de criptomoedas tendem a seguir no sentido contrário e oferecer suporte ao novo token ETHW que pode surgir. Binance, a maior corretora do mundo, disse nesta quarta que não irá desconsiderar seu apoio à possível bifurcação do Ethereum.
Já a Poloniex, de Justin Sun, e Huobi, afirmaram no início da semana que irão apoiar a rede alternativa e listar o token ETHW. A BitMEX também anunciou o lançamento de um contrato futuro para ETHW.
O criador do Ethereum, Vitalik Buterin, criticou o comportamento das corretoras em oferecer apoio a essa rede dos mineradores.
“Alguns outsiders que têm exchanges só querem ganhar dinheiro rápido. Eu simplesmente não vejo esse aspecto orgânico nisso. […] Não espero que o EthereumPOW tenha uma adoção substancial a longo prazo”, disse Buterin na conferência ETH Seoul, segundo o CoinDesk.
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