O criador da pirâmide financeira BlueBenx, Roberto Cardassi, foi detido em Portugal pela Polícia Judiciária na cidade de Braga. Após ser levado às autoridades judiciais, ficou decidido que o suspeito agora terá que se apresentar a cada três semanas no Tribunal da Relação de Guimarães, enquanto aguarda processo de extradição para o Brasil. As informações são das autoridades policiais portuguesas e do jornal O Globo.
Cardassi responde por fraude e lavagem de dinheiro no Brasil, de onde sumiu depois que a Bluebenx ruiu em 11 de agosto de 2022, parando de pagar os clientes. A empresa criou sua própria criptomoeda e prometia retornos de até 66% ao ano, tendo deixado um prejuízo de R$ 160 milhões aos clientes.
A Bluebenx foi fundada em 2017 e atraiu milhares de investidores. Tal era o volume de captação, que a operação foi flagrada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como uma oferta irregular de investimentos — algo recorrente em casos de pirâmides financeiras.
Para justificar a interrupção dos pagamentos, a empresa alega ter sido vítima de um ataque hacker “extremamente agressivo”, mas depois mudou a narrativa alegando ter sido vítima de um golpe de falsa listagem.
O advogado da companhia, Assuramaya Kuthumi, afirmou na época que a empresa havia perdido R$ 160 milhões no incidente. Evidências on-chain, no entanto, localizaram uma perda de apenas R$ 1,1 milhão em tokens que a BlueBenx supostamente perdeu ao cair em um esquema de falsa listagem, transferidos posteriormente para a corretora Binance, segundo apuração do Portal do Bitcoin.
Cardassi foi convocado para falar na CPI das Pirâmides Financeiras na condição de testemunha, mas não compareceu por estar foragido. Em seu relatório final, a CPI recomendou que o Ministério Público fosse atrás de Roberto Cardassi para apurar sua conduta na Bluebenx e, se necessário, propor uma ação penal.
CVM rejeita acordo
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) rejeitou em janeiro e 2023 uma oferta de acordo feita pela BlueBenx. A proposta previa o pagamento de R$ 150 mil pela empresa e mais R$ 50 mil pelo controlador Roberto de Jesus Cardassi.
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Em janeiro de 2022, antes da BlueBenx colapsar, um comitê da CVM já havia rejeitado inicialmente o acordo, proposto pela empresa para encerrar o processo na autarquia que investiga a oferta irregular de investimentos em bitcoin pela BlueBenx.
O Colegiado da Comissão confirmou a decisão de manter esse impedimento jurídico. De acordo com comunicado da autarquia, a decisão veio porque ela “concluiu existir impedimento jurídico para a celebração do acordo, tendo em vista o não cumprimento do requisito legal referente à cessação das irregularidades”.
Arresto e carros de luxo
Já em setembro de 2022, a 43ª Vara Cível de São Paulo acatou um pedido de arresto de imóveis de Roberto de Jesus Cardassi e William Batista. De acordo com o Diário de Justiça, o juiz responsável pelo caso emitiu o bloqueio de imóveis em nome dos réus após as buscas por ativos financeiros em posse da dupla terem sido mal sucedidas.
Vale lembrar que, em um processo aberto por outro cliente, a Justiça encontrou R$ 1,4 milhão em carros de luxo dos executivos, incluindo Porsche, Mercedes Benz e BMW, mas suas contas bancárias já haviam sido esvaziadas.
No total, foram localizados sete imóveis da dupla, que sofreram o arresto. Roberto Cardassi é proprietário de quatro imóveis em cidades diferentes, incluindo São Paulo, São José do Rio Preto (SP), Taquaritinga (SP) e Boituva (SP).
Mentiras no currículo
Em seu LinkedIn, Cardassi se descrevia como um profissional com “mais de 20 anos de sólida experiência em gestão de negócios, operações financeiras e inovação tecnológica”, formação em locais de grifes, como Harvard e USP. Pelo menos boa parte disso era mentira (o perfil foi retirado do ar).
O Portal do Bitcoin entrou em contato com a universidade americana, que negou ter o brasileiro no corpo de alunos.
Mesmo a formação em Engenharia da Computação da USP, que ele diz ter feito entre os anos de 1998 e 2003 , é falsa. Ele não está na lista pública de formados na graduação.
Antes da Bluebenx
Ao longo de sua trajetória profissional, Cardassi se tornou uma espécie de empresário em série.
Entre 1996 e 2009, ele diz ter atuado como consultor em quatro empresas diferentes. A partir de 2010, passou a assumir cargos de diretor empresarial, atuando nas empresas Entelgy Brasil e Ativa TS, até finalmente fundar a BlueBenx em 2017.
No entanto, ao consultar o nome do empresário na Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP) é possível ver que ele já criou ao menos 12 empresas, sendo seis delas ligadas diretamente ao seu negócio da BlueBenx, mas com variações no nome.
Existe, por exemplo, a Bluebenx Tecnologia Financeira EIRELI, a Bluebenx Pagamentos Sociedade Anônima, a BBX Capital Intermediação e Tecnologia LTDA, e assim por diante.
A maior polêmica, no entanto, vem da ligação de Cardassi com o conglomerado Vivi Holdings, cujas empresas participantes protagonizaram uma série de controvérsias.
A Vivi Tech, por exemplo, é alvo de mais de 40 processos no Brasil, abertos tanto por funcionários contratados que não receberam salários, quanto por bancos como o Bradesco, que acusa a empresa de dar um calote de quase R$ 200 mil.
Já a Vivi Pay, um suposto serviço de pagamentos do conglomerado, é citada em processos por facilitar as operações da Midas Trend, uma pirâmide financeira com criptomoedas acusada de roubar R$ 55 milhões de investidores brasileiros.
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