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O Brasil está caminhando para uma economia tokenizada. Quem afirma isso é  Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central do Brasil, que participou nesta quinta-feira (3) do Digital Assets Conference Brazil (DAC), evento promovido pelo MB (Mercado Bitcoin) em parceria com o CME Group, Fireblocks, e Deribit.

Campos Neto afirmou que um dos principais objetivos do Banco Central é encontrar maneiras de tornar as transações de ativos mais eficientes. “Estamos migrando para uma economia tokenizada A resposta é sim”, cravou.

Ele começou sua apresentação falando sobre a trajetória da autoridade monetária brasileira em acompanhar as transformações tecnológicas, com o primeiro passo nessa direção sendo a criação do Pix.

Em seguida, veio o open finance, um processo que ele admite ter sido mais longo e com menor engajamento em comparação ao Pix. Para Campos Neto, a tokenização está fortemente alinhada com os objetivos do open finance. “Se eu tenho a infraestrutura, o engajamento, as pessoas, os produtos e a portabilidade, o que falta A tokenização”.

“A tokenização tem um potencial muito maior no ambiente de open finance. Quando combinamos os dois, o potencial se torna enorme, unindo a comparabilidade e a portabilidade com a tokenização”, explica.

Campos Neto vai além ao refletir sobre como a tokenização pode resolver problemas do mundo real.

Ele destaca que um dos problemas atuais é a falta de controle das pessoas sobre seus próprios dados na internet, o que gera grande frustração, já que hoje fornecem essas informações gratuitamente para grandes corporações.

Ele então traça um cenário ideal em que cripto pode servir para a monetização de dados: “Se tivermos um marketplace financeiro onde seja possível construir um histórico de transações, unindo todos os seus dados, compras e informações, e acoplarmos a esse sistema uma carteira digital, em algum momento você poderia monetizar essas informações por meio de tokens.”

BC em defesa dos ativos digitais

Campos Neto diz que o Banco Central do Brasil tem uma postura um pouco diferenciada em relação aos outros quando o assunto é ativos digitais. “Somos um Banco Central que não é favorável à proibição ou a movimentos contrários aos ativos digitais. Pelo contrário, acreditamos que eles devem fazer parte da base financeira.”

Segundo ele, proibir que bancos tenham exposição a ativos digitais acaba, no final, gerando mais riscos, e não menos.

Ao analisar o cenário atual do mercado, Campos Neto observa que o crescimento recente não é das criptomoedas, mas das stablecoins, especialmente as lastreadas em dólar. 

“Existe algo particularmente relevante no mundo emergente: a possibilidade de ter uma conta em dólar de forma barata. As pessoas recorrem às stablecoins por esse motivo. Quando olhamos para o crescimento disso, entendemos que, no fim das contas, o conceito em questão é ter uma conta em dólar de forma mais rápida e acessível.”

Campos Neto explica que o BC, que é o órgão responsável por fiscalizar e criar as regras para o funcionamento do mercado de criptomoedas no Brasil, está avançando muito no processo regulatório, com a segunda consulta pública prevista para outubro.

Ele revelou que o Banco Central também tem um segundo bloco de regulação previsto para 2025. “Temos alguns desafios a serem superados, e um dos temas é a taxonomia das stablecoins. Seria muito importante garantir a segregação de contas e a transparência. Ou seja, se você compra uma stablecoin, deveria haver um lugar onde possa visualizar seu ativo e o colateral que está sendo custodiado”, exemplificou.

O estado atual do Drex e as metas para o futuro

Campos Neto, em seguida, volta sua atenção para o Drex, um dos projetos nos quais o Banco Central tem concentrado grande parte de seus esforços atualmente.

“Quando voltamos no tempo e pensamos no debate sobre as CBDCs em outros países, sempre nos deparávamos com um obstáculo: o que acontece quando uma moeda digital é emitida pelo governo e afeta a relação entre ativos e passivos no balanço do banco central?”

O presidente do BC diz que o tema rondou os debates por muito tempo e não havia uma solução clara para o problema, até que um dia, durante uma conversa, surgiu a ideia: “Por que não fazemos um depósito tokenizado? O banco bloquearia o depósito e emitiria o token”, explicou Campos Neto. 

“Isso nos permitiu atingir outras duas dimensões que buscávamos: introduzir o conceito de tokenização dentro dos bancos, para que comecem a enxergar ativos e passivos na forma de tokens, o que traz muita eficiência. Ao mesmo tempo, isso também reduz os custos com contratos.”

Ele revela que quando foi pensado na estrutura do Drex, o mercado de finanças descentralizadas (DeFi) foi uma fonte de inspiração. 

Outro tema discutido foi a questão de o Drex ser voltado para o varejo ou atacado: “Não gosto muito desse conceito. No final das contas, acho que ele abrange os dois, tem as duas dimensões”, afirmou, enquanto apresentava a imagem a seguir para exemplificar as diferentes facetas do real digital.

Apesar de otimista, ele não esconde que o desenvolvimento do Drex ainda enfrenta desafios: “O muro que estamos hoje é: como fazemos a privacidade, a programabilidade e a descentralização com escalabilidade?”

Atualmente, o Banco Central já tem a solução para os três problemas iniciais, mas com baixa escalabilidade. “Temos uma plataforma onde os participantes se comunicam, mas que foi originalmente desenhada para não ter privacidade. Temos boas soluções para resolver isso, mas elas não são escaláveis. Então estamos trabalhando intensamente nessa questão.” 

Na visão de Campos Neto, a resolução desse problema terá um impacto ainda maior do que se imagina. “Se conseguirmos usar uma hyperledger com alta escalabilidade, não apenas será transformacional para o Drex, como também poderá transformar toda a indústria bancária”, afirmou.

No projeto piloto, que agora está na fase 2, estão sendo testadas soluções para a inserção de novos ativos no Drex, como recebíveis de cartão, crédito com garantia, transações com RWA (Real World Assets), e ativos virtuais integrados à rede.

A ideia do Banco Central, com a conclusão de todos os projetos de tecnologia que está desenvolvendo, é criar um superapp — um ambiente de marketplace no qual os brasileiros terão acesso a todos os serviços financeiros em um único lugar. Nesse espaço, os bancos competirão entre si para oferecer os melhores serviços aos clientes.

“Isso não é uma visão de futuro, é um plano que já está sendo implementado. Pela primeira vez, os funcionários do Banco Central têm a percepção de quão relevante esse projeto é para transformar a vida das pessoas”, concluiu.

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