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Após anunciar que iria transformar todo o saldo dos clientes em uma nova criptomoeda chamada BEEB 2.0 e exigir um depósito de US$ 10 para destravar os fundos, a BeeFund agora é acusada de enganar investidores, retendo o novo saque e impedindo que os clientes acessem seus próprios fundos.

A BeeFund prometia retornos diários de até 12,75% que viriam do suposto investimento em criptomoedas. No começo deste mês, a empresa retirou seu site do ar e travou os saques, resultando em uma enxurrada de reclamações na internet. A resposta da BeeFund, por meio de seu canal de Telegram, foi que tudo seria normalizado com a criação do token BEEB 2.0.

Para acessar o saldo, o cliente precisaria primeiro depositar US$ 10 em stablecoin. E sob ameaça: quem não realizasse o depósito até esta semana seria obrigado a aplicar 10% do valor que tivesse na plataforma para retomar o acesso aos fundos. Os tokens seriam então transferidos para uma plataforma chamada Superex.

Pois nesta sexta-feira (8) já começaram os relatos de clientes que depositaram os US$ 10 e continuam sem poder sacar os fundos. Uma cliente que pediu para não ter seu nome divulgado, entrou em contato com o Portal do Bitcoin e informou que fez todos os procedimentos passados pelos administradores da Beefund — inclusive o pagamento dos US$ 10 para a liberação da conta — e até o momento continua com o saldo fica bloqueado.

No print abaixo, é possível ver que a opção de “retirar” os fundos da plataforma está desativado.

“Nossas moedas BEEB estão bloqueadas, que foi uma vinculação a antiga conta Befund que saiu do ar de vez. Migraram para o aplicativo Superex e lá não conseguimos fazer nada além de olhar. Isso quando esse Superex não está em manutenção, já desde ontem está caindo direto”, afirma a cliente.

A vítima ainda ressalta que os administradores não deram notícias sobre novos motivos para o congelamento de saldos no grupo oficial de Telegram.

Um outro cliente que entrou em contato com a reportagem afirma que fez o depósito de US$ 10 e sua situação permanece igual. “Estou sendo lesado por essa empresa que não devolve meu dinheiro e fica pedindo pra depositar mais dinheiro para que eu possa retirar o meu fundo”, afirma.  

Além de negar o acesso aos fundos, o cliente, que enviou prints para comprovar seu relato, afirma que a empresa inflou o saldo exibido na tela do Superex, mostrando um suposto lucro como forma de pressioná-lo a realizar um novo depósito. “Eles aumentaram o saldo da conta e congelaram para que a gente desbloqueie com um depósito de dez por cento do valor que está na carteira congelada”, declarou.

Leia também: Perdeu dinheiro na BeeFund? Veja o que fazer

Quixas no Reclame Aqui disparam

No site do Reclame Aqui existem diversos relatos de clientes que pagaram a taxa de US$ 10 e não tiveram acesso aos fundos restabelecidos. Um cliente de Teixeira de Freitas (BA) afirma: “Pediram para depositar mais 10 dólares para desbloquear o saldo, e nada de descongelar. Fiquei no prejuízo”.

Um cliente de Foz do Iguaçu (PR) diz: “Meu saldo continua bloqueado mesmo depois de ter colocado mais 10 dólares que pediram”.

De Igaratinga (MG), outro cliente afirma: “Efetuei depósitos como solicitado. Duas vezes de 10 dólares. Não descongelou meu saldo e agora querem mais 10% do valor da banca para liberar o saque”.

Empresa se comunica no Telegram

A comunidade oficial da BeeFund no Telegram tem 199 mil membros e foram publicadas duas informações nesta sexta-feira (8).

A mais recente afirma que “os usuários que originalmente ativaram suas contas com 10U agora só precisam recarregar 10% do seu total de ativos no SuperEx para desbloquear os saques”.

Mais cedo, a empresa explicou um “programa de engajamento do usuário”. No comunicado, a companhia afirma que “os usuários que transferiram para 10U mas não acionaram o desbloqueio na primeira fase, será adotado um plano de desbloqueio de ativação baseado em 10% do ativo total. O valor mínimo do depósito é 10USDT”.

BeeFund rouba imagens de executivos

No dia 30 de outubro, o portal e-investidor publicou reportagem mostrando que a BeeFund usou nomes de famosos executivos internacionais do setor cripto para tentar passar credibilidade para sua propaganda de rendimentos de até 12,75% por dia. 

O aplicativo apresenta um sistema no qual o cliente supostamente investe em uma carteira montada por profissionais. Um desses seria “Anne Richards”, que daria retorno anual de 1000%, com a condição do dinheiro ficar pelo menos 15 dias na plataforma.

Porém, Anne Richards é vice-presidente da Fidelity, uma das maiores firmas de investimento do mundo. A executiva já se pronunciou e disse não ter nenhuma relação com a BeeFund. 

E essa não foi a única tentativa da plataforma usar a credibilidade de pessoas reais. O mesmo ocorreu com outros três executivos e todos já negaram participação na empresa: Jan Brzezek, fundador da Crypto Finance Group, Tobias Reichmuth, fundador de SUSI Partners, e Marc P. Bernegger, empreendedor do setor de tecnologia.

O que os clientes lesados devem fazer?

Após a publicação da reportagem informando que a plataforma BeeFund saiu do ar e bloqueou o dinheiro de centenas de clientes, o Portal do Bitcoin passou a receber uma enxurrada de denúncias contra a empresa, além de diversos questionamentos sobre como as vítimas devem proceder.

No passado, uma situação semelhante ocorreu com um aplicativo chamado “Avaliador Premiado”. Na ocasião, a reportagem entrevistou Renata Reis, coordenadora de atendimento do Procon-SP, que explicou alguns passos importantes para consumidores lesados seguirem quando se sentem enganados por empresas que prometem rendimentos garantidos, em um modelo semelhante ao de pirâmides financeiras.

  • Tentar entrar em contato com a empresa — importante guardar e registrar todas as comunicações, mesmo que não haja resposta da empresa;
  • Fazer denúncias nas redes sociais e no portal Reclame Aqui — guarde prints screens (capturas de telas) dessa reclamações;
  • Fazer uma denúncia ao Procon de seu estado pelo site da instituição — assim a situação tentará ser resolvida sem ação judicial;
  • Nessa denúncia no portal do Procon do estado, o consumidor deve detalhar totalmente como foi o processo da fraude e apresentar o máximo de documentação (recibos, mensagens, e-mail, capturas de telas, endereços de site, fotos das ofertas, etc);
  • Caso não se resolva por acordo, o consumidor pode acessar o Juizado Especial Cível (anteriormente conhecido como Juizado das Pequenas Causas);
  • Não há valor mínimo: o consumidor pode buscar reparação de qualquer dinheiro entre zero reais e vinte salários mínimos;
  • Não é necessária a contratação de advogado;
  • É recomendável que se vá pessoalmente até um fórum. É possível fazer pela internet, mas pessoalmente o cidadão tem auxílio de um profissional;
  • Leve toda a documentação de recibos, pagamentos, envio de mensagens, print screens (capturas de tela) das reclamações nas redes sociais e Reclame Aqui, nomes, endereços, números de telefone;
  • Um funcionário irá fornecer um documento no qual o consumidor irá descrever tudo que ocorreu;
  • O documento será protocolado com a ajuda do funcionário (que muitas vezes é um estagiário de Direito, por conta de convênios que os fóruns têm com faculdades);
  • Um juiz irá analisar a documentação e irá decidir se há o direito de ressarcimento, sem que seja necessária a particiapação de advogado em nenhum momento.

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