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Há oito anos Philip Martin tem a missão de garantir a segurança na Coinbase, a maior corretora de criptomoedas dos Estados Unidos. Em entrevista concedida ao Portal do Bitcoin durante o evento Ripple Swell, Martin apontou quais são os principais desafios da segurança no setor cripto atualmente, especialmente no duplo papel das empresas da área: educar os usuários sobre como forma se prevenir golpes e proteger seus fundos.

“Vimos o que acontece quando você está no mundo cripto e não leva a segurança a sério”, destacou o executivo, referindo-se a episódios em que corretoras, como a FTX, perderam os fundos dos clientes.

Ao ser questionado sobre como a Coinbase atua para prevenir que acidentes como vistos no passado se repitam, o executivo garante que a corretora, por ser a única do setor listada na bolsa de valores dos EUA, é submetida a auditorias rigorosas e divulga informações detalhadas sobre suas reservas e operações financeiras. Isso, segundo ele, diferencia a Coinbase de outras corretoras menores que operam com menor transparência.

Ele também defende que todas as corretoras do setor devem implementar a segregação patrimonial e colaborar para criar um sistema eficiente e padronizado de prova de reservas.

“Temos trabalhado com algumas empresas que estão pesquisando nesse espaço, para desenvolver protocolos de prova de reservas que funcionem bem, sem comprometer a privacidade dos clientes. Esse é um problema enorme, porque queremos ser transparentes sem colocar em risco a privacidade dos endereços e sistemas que usamos”, diz.

As ameaças no meio cripto

No mercado mais amplo, Martin destaca que a maior dificuldade dos especialistas em segurança é estar preparado para lidar com a rápida evolução das ameaças no ambiente digital. “Acho que o mais difícil em termos de segurança de forma geral é o quão rápido a criptomoeda se move e quantas coisas novas aparecem o tempo todo. Acompanhar isso é muito desafiador”, afirma.

Além disso, a complexidade das criptomoedas e a constante associação com fraudes e ataques criam receios entre o público. Apesar disso, ele descarta a ideia de que, como muitos acreditam, criptomoedas são a escolha preferida dos criminosos, com a maioria das atividades ilícitas ainda ocorrendo no sistema financeiro tradicional, onde o dólar é a moeda preferida dos criminosos.

O executivo citou um estudo recente da Coinbase que indicou que menos de 0,5% das transações em criptomoedas envolvem atividades ilícitas, número bem inferior ao que seria possível mensurar no sistema de moeda fiduciária. 

“O fascinante é que mesmo que esse número possa não ser tão exato, provavelmente não está muito longe da realidade, porque temos a blockchain, com um registro de todas essas transações, o que nos permite fazer uma análise forense. Tentar chegar a esse número na economia do dólar é impossível, por causa de todas as transações não registradas, o dinheiro trocando de mãos”, diz.

O executivo também reconhece ser “difícil ler sobre cripto e não ser sobre hacks, roubos e golpes”, o que, infelizmente, causa temores nos novos usuários. Ele observa que no momento um dos golpes que mais fazem vítimas é o “pig butchering”, em que o golpista tenta criar uma falsa relação de confiança ao longo de meses com sua vítima, antes de pedir um investimento fraudulento.

“Esses são golpes muito cruéis, e a chave para preveni-los é a educação. Ajudar as pessoas a reconhecerem como esses golpes se parecem antes que elas sejam vítimas. Normalmente, as vítimas mais vulneráveis são pessoas que podem estar isoladas ou que não estão familiarizadas com as novas tecnologias”, afirma.

Para frear o avanço desses tipos de golpes e proteger os investidores, ele conta que a Coinbase se uniu à “Tech Against Scams Coalition”, uma coalizão formada por empresas de tecnologia que colaboram para detectar e impedir fraudes que, com frequência, envolvem mais de uma plataforma.

Martin também diz ser necessário que as empresas cripto estejam preparadas para lidar com as autoridades no enfrentamento de fraudes. Ele reconhece que governos têm o direito de prevenir crimes e recorrer a ajuda das empresas da área, o que torna a completa anonimidade um desafio. 

“Um mercado cripto puramente anônimo é realmente desafiador, do ponto de vista da segurança pública e até mesmo de praticidade”, analisa. “Acho que o papel dos governos é equilibrar anonimato e transparência, e é o papel dos cidadãos elegerem governos que equilibrem isso da maneira que a maioria deseja. Muitas pessoas defendem a privacidade total, o que é super importante. Eu também não quero que minhas transações financeiras sejam públicas. Mas, ao mesmo tempo, não quero permitir que atores mal-intencionados operem livremente”, comenta.

CBDC e regulação cripto nos EUA

Martin também acredita ser altamente improvável que o governo dos EUA crie uma moeda digital de banco central (CBDC), ao contrário de países como Brasil, que possui o Drex em estágio avançado de teste.

“A razão para isso é que há uma forte cultura anti-vigilância nos EUA, que veria uma CBDC como uma grande invasão do governo. O governo deve se concentrar nas suas funções e não invadir a vida privada dos cidadãos”, explica. “Além disso, o sistema atual, onde os bancos centrais financiam o sistema bancário, que então distribui o dinheiro para as pessoas, ainda tem muitas coisas boas. Não queremos simplesmente descartar tudo isso de uma vez.”

Já sobre a regulamentação do mercado de criptomoedas nos EUA, o executivo reconhece que as empresas têm dificuldades em obter clareza em diferentes áreas de operação.

“As regras da SEC não fazem sentido como as vemos e não podem ser cumpridas hoje. Há confusão até sobre questões básicas, como: o Ethereum é um valor mobiliário ou uma commodity? Essas são questões fundamentais que afetam quais regras se aplicam e quem é o regulador responsável”, afirma.

Questionado se a saída de Gary Gensler da presidência da SEC resolveria esse problema, ele acredita que dependerá muito de quem vai substituí-lo.  “Independentemente disso, acho que esperamos por um próximo governo que, possivelmente, seja mais receptivo a cripto. Tanto democratas quanto republicanos têm mostrado sinais de uma abertura maior para a criptoeconomia do que vimos no passado.”

Quanto ao futuro, Martin se mostra otimista com o crescimento das criptomoedas e com a expansão da Coinbase para novos mercados, como o Brasil.

“Espero que, no futuro, vejamos cada vez mais pessoas usando criptomoedas, não apenas como investimento, mas como parte de suas transações do dia a dia. Gostaria de ver mais adoção de stablecoins e outras criptos em economias que realmente precisam de uma alternativa ao sistema financeiro tradicional. Um exemplo claro é a África, onde muitas pessoas não confiam em seus sistemas financeiros locais e veem um enorme valor em cripto”, conclui.

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*O Portal do Bitcoin está em Miami para cobrir o evento Ripple Swell, a convite da Ripple.

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