Depois de um longo período de tensão e cautela no mercado, as criptomoedas voltaram a ganhar força na última semana, com o Bitcoin (BTC) subindo mais de 6% em quatro dias com a decisão do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) de cortar os juros no país em 50 pontos-base.
A decisão animou investidores e analistas, já que um cenário de juros mais baixos na maior economia do mundo tende a favorecer ativos de risco — que tendem a dar mais retorno —, como ações e criptomoedas, ainda que se mantenha um debate sobre o risco inflacionário de se reduzir as taxas nos EUA e o peso que isso teria nas chances do país entrar em recessão.
Porém, na madrugada de sexta-feira (20), o Bitcoin teve mais um fator positivo para a subida de preço: o Banco do Japão (BoJ) decidiu manter sua taxa de juros estável, o que fez com que o iene perdesse força.
Como apontou o trader de derivativos Gordon Grant ao site The Block, o dólar vem se fortalecendo em relação ao iene desde a segunda-feira passada, favorecendo para a alta do Bitcoin e do resto do mercado cripto.
Um dólar mais forte em relação ao iene historicamente tem apoiado ativos de maior risco, já que o iene é frequentemente usado como moeda de financiamento para negociações “de risco”, onde os investidores buscam retornos mais altos tomando empréstimos em moedas de juros baixos como o iene, estratégia conhecida como “carry trade”, disse Grant.
“O fortalecimento de mais de 1% do dólar exclusivamente em relação ao iene acomodou uma valorização em ativos como ouro, prata e também Bitcoin”, observou Grant. Ele acrescentou que, embora o Bitcoin possa atuar como uma “proxy de dólar vendido” — ganhando valor quando o dólar enfraquece — ele também se comporta como um ativo de beta alto, o que significa que tende a subir quando o sentimento de risco de mercado mais amplo melhora.
Na sexta-feira pela manhã, o Bitcoin chegou a encostar na marca de US$ 64 mil e apesar de perder um pouco de força, conseguiu sustentar os US$ 63 mil, fechando a semana com ganhos na casa de 6%. Mesmo caminho seguiu o Ethereum (ETH), que também subiu 6% em sete dias e chegou ao nível de US$ 2.550.
Mercado dividido sobre o futuro
Apesar da empolgação vista nos preços neste primeiro momento, analistas seguem cautelosos sobre até onde o Bitcoin pode chegar, pelo menos por enquanto.
Logo após a decisão do Fed, André Franco, chefe de research do Mercado Bitcoin (MB), afirmou que o mercado ainda tinha muitas dúvidas – que ainda se mantêm -, o que pode levar a uma maior volatilidade neste primeiro momento.
“Vamos ter outros cortes de juros até o final do ano, que naturalmente injetam ainda mais liquidez no mercado, porém o principal receio hoje do mercado (por isso essa volatilidade agora) é se esses 50 pontos de corte significam que o Fed está vendo uma possibilidade de recessão. Isso é o que tem mais preocupado o mercado”, afirma.
Já Fábio Plein, diretor regional da Coinbase para as Américas, avalia que, ainda que cortes nas taxas de juros possam indicar ambientes favoráveis a ativos considerados de risco, a redução de 50 pontos pode ser vista pelo mercado como drástica, e sinalizar preocupações do Fed com uma recessão iminente, o que pode ter impacto negativo nos preços.
“É preciso cautela para avaliar o impacto desse anúncio nos preços, à medida que outros fatores poderão agir positiva ou negativamente na performance do mercado nos próximos meses, como as eleições presidenciais americanas, fluxos de capital institucional em direção a ETFs de BTC e ETH e até mesmo o fim da sazonalidade dos meses de agosto e setembro, períodos historicamente de baixa para o setor”, completa Plein.
O estrategista de pesquisa de criptomoedas da 21Shares, Matt Mena, reforçou também ao The Block que o corte de juros nos EUA pode levar à volatilidade do mercado a curto prazo. “A curto prazo, o corte de 50 pontos-base na taxa pode sinalizar que a economia está desacelerando, sugerindo problemas subjacentes que podem ainda não ser aparentes”, afirma.
Segundo ele, esse cenário pode desestabilizar investidores tradicionais e de criptos, potencialmente desencadeando uma volatilidade inicial. Por outro lado, ele reforça que um cenário de juros mais baixos, a longo prazo, tende a ajudar o Bitcoin e outros ativos digitais.
Enquanto isso, o analista da BRN, Valentin Fournier, se mostrou mais cauteloso: “Indicadores técnicos sugerem que o momentum ascendente do Bitcoin pode estar se aproximando do pico. O preço está se aproximando das Bandas de Bollinger superiores, e o RSI está sinalizando uma potencial reversão de tendência. Por enquanto, recomendamos manter baixa exposição, com reinvestimento considerado apenas em torno de US$ 56.000 ou abaixo disso”, disse Fournier.
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